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Tanques ocupam a Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro no dia 4 de abril de 1968. © 1968 Correio da Manhã
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, restabeleceu as comemorações do golpe de 1964, que inaugurou duas décadas de uma ditadura militar marcada por milhares de casos de tortura e execuções, disse a Human Rights Watch hoje.

“Bolsonaro critica com razão os governos cubano e venezuelano por violarem os direitos básicos da população”, disse José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch. “No entanto, ele celebra ao mesmo tempo uma ditadura militar no Brasil que causou um sofrimento indescritível a dezenas de milhares de brasileiros. É difícil imaginar um exemplo mais claro de dois pesos e duas medidas”.

Bolsonaro, ex-capitão do exército, ordenou ao Ministério da Defesa que faça “as comemorações devidas” do golpe militar que, em 31 de março de 1964, depôs um presidente democraticamente eleito e impôs um regime militar que durou até 1985. Dessa forma, Bolsonaro reverteu a política estabelecida em 2011 pela então presidente Dilma Rousseff, uma sobrevivente da tortura, que determinou às forças armadas a suspensão de qualquer comemoração do golpe.

É isso que Bolsonaro está celebrando:

4.841 representantes eleitos destituídos do cargo.

Aproximadamente 20.000 pessoas torturadas.

Pelo menos 434 pessoas mortas ou desaparecidas.

Ninguém até o momento foi responsabilizado por esses abusos, disse a Human Rights Watch.

Uma das vítimas foi Vladimir Herzog, um jornalista que foi brutalmente torturado e assassinado em 1975 por agentes da ditadura. "Estou indignado", disse o filho de Herzog, Ivo, à Human Rights Watch. Comemorar o golpe “é uma ofensa, uma tortura continuada para as famílias” daqueles que foram assassinados, disse Ivo.

Membro das forças armadas durante a ditadura, Bolsonaro defendeu repetidamente o regime militar durante seus quase 30 anos como deputado federal.

Ele disse que o erro da ditadura foi torturar e não matar as pessoas, e diversas vezes se referiu a um dos piores torturadores da ditadura como um “herói”. Em 2009, ele pendurou um cartaz na porta do seu gabinete no Congresso com a frase “quem procura osso é cachorro”, em referência à busca dos restos mortais de supostos integrantes desaparecidos da guerrilha do Araguaia.

Recentemente, Bolsonaro elogiou o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner como "um homem de visão, um estadista". E depois que o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o ex-ditador chileno Augusto Pinochet "teve que dar um banho de sangue" e elogiou sua política econômica, Bolsonaro disse que as ditaduras do Cone Sul “pacificaram” a região.

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